domingo, 17 de março de 2013

ACONTECÊNCIAS

“TOMARA QUE ESSES BAR FALA!” *

Imagem Google

Assisto de camarote todos os dias, no estacionamento que possuo no centro de Natal, a todo tipo de acontecências que vão desde pequenos furtos, assaltos propriamente ditos, arruaças, brigas, desfile de vai e vem de pessoas dignas de pena, de riso, às vezes de admiração, verdadeiras presepadas que dão pra rir e pra chorar.

A “minha rua”, a Princesa Isabel, é loteada e “dominada” por três irmãos flanelinhas, os Franciscos: de Assis, das Chagas e Nazareno, vulgo “Negão”, Gaguinho e Nazal, respectivamente, e do fiel amigo e escudeiro Josué, que por se parecer com um ratinho, atende pelo cognome de “Gabi”, apelido carinhoso de gabiru. Josué é o famoso “quebra-galho” que na falta de algum dos irmãos toma conta e paga o aluguel do “pedaço”.

Pois bem, essas criaturas estão “tomando conta” da rua hà pelo menos vinte anos. Ganham a vida exclusivamente como flanelinhas. São casados e pais de família, alguns se drogam e todos adoram tomar uma carraspana. E por causa da “mardita” todos já tiveram problemas de saúde.

Perto final do ano passado, Negão, o mais velho, 36 anos, a quem tenho mais proximidade – é o meu ajudante de ordem e olheiro dos malfeitores que ficam nas adjacências do estacionamento – começou a reclamar que não estava se sentindo bem. Passou mal e foi ao médico. Diagnóstico: pressão alta, arritmia cardíaca e ulcera gástrica. Decisão: Vou parar de beber!

E parou. Por um mês inteiro vi o quanto era difícil ele levar a cabo a sua decisão. Estávamos todos, do estacionamento e da vizinhança, engajados em lhe dar o apoio que necessitava, ia desde os remédios receitados pelo médico, a hora certa de tomá-los, cuidados com a alimentação, conselhos e, principalmente apoio moral. 

Assistia todos os dias os irmãos passarem chamando-o para tomar uma. E ele resistindo. Certa vez, observando os irmãos passarem para mais uma das muitas viagens diárias ao bar, exclamou:

- “Tomara que esses bar fala!”

E eu perguntei:

- Falar o quê?

Ele de pronto respondeu:

- Que feche. Que vá à falência. Só assim eu não tenho onde beber!

Ele não resistiu à passagem do ano novo. E tudo voltou ao que era d’antes...

*TRADUÇÃO: Tomara que esses bares vão à falência.





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