segunda-feira, 23 de março de 2020

Apesar de...

“... uma das coisas que aprendi é que se deve viver apesar de. Apesar de, se deve comer. Apesar de, se deve amar. Apesar de, se deve morrer. Inclusive muitas vezes é o próprio apesar de que nos empurra pra frente.”
Clarice Lispector

E se, -  apesar de - o momento em que hoje vivemos, seja o que estava nos faltando para que pudéssemos, enfim, aprender o quão importante e imprescindível sermos solidários, nos ensinando com o medo que a dor é a grande mestra dessa nossa instável e curta estadia?

E se, -  apesar de - o momento em que hoje vivemos, seja a nossa única e última oportunidade para que possamos com a dor da solidão aprendermos a sermos fraternos, a perdoar e amarmos uns aos outros?

E se, -  apesar de - o momento em que hoje vivemos, seja a lição que nos faltava para descobrimos o valor da vida, da saúde, da paz, da harmonia entre nós, enquanto seres humanos, habitantes de um planeta chamado terra, e por nós tão massacrado?

E se, - apesar de – o momento em que hoje vivemos, seja para que - depois dessa tempestade - nos tornemos seres melhores num mundo novo, conscientes da nossa pequenez?

A minha esperança é que essa travessia nos faça pessoas melhores em um mundo melhor, para vivermos o novo, juntos.

sábado, 14 de março de 2020

DIA DA POESIA


FANATISMO
 

Minh'alma, de sonhar-te, anda perdida
Meus olhos andam cegos de te ver!
Não és sequer razão de meu viver,
Pois que tu és já toda a minha vida!

Não vejo nada assim enlouquecida...
Passo no mundo, meu Amor, a ler
No misterioso livro do teu ser
A mesma história tantas vezes lida!

Tudo no mundo é frágil, tudo passa...
Quando me dizem isto, toda a graça
Duma boca divina fala em mim!

E, olhos postos em ti, vivo de rastros:
"Ah!  Podem voar mundos, morrer astros,
Que tu és como Deus: princípio e fim!..."


Florbela Espanca

segunda-feira, 9 de março de 2020

MAMÃE, PARABÉNS!

 
Mamãe e sua trupe
Regina, Lúcia, Eu, Katherine e Joaquim

Ela era a gatinha manhosa para o meu avô, a gata seca para os seus irmãos e pretinha para o meu pai. Por aí já dá pra sentir como uma pessoa que se chama Ody carregou por toda a vida o apelido de Miminha. Só podia ser muito manhosa mesmo!.

Esta é minha mãe, que nasceu em nove de março, e nós que fazemos parte da sua ninhada, estamos festejando os seus 86 anos.

Durante sua vida foi a primeira dançarina da trupe de papai. Quando cansava passava o posto para as filhas e assim as nossas festas varavam o dia entrando pela noite.

Como éramos festeiros!

A você mamãe, nossa declaração de amor, desejando que Deus lhe mantenha conosco por muitos anos com saúde, paz e alegria.

Hoje, dia em que comemoramos o seu aniversário, se vivo estivesse, papai com certeza iria homenagear o amor da sua vida, a sua pretinha, cantando...

Tu és, divina e graciosa estátua majestosa
Do amor, por Deus esculturada
E formada com o ardor,
Da alma da mais linda flor, de mais ativo olor
E que na vida é a preferida pelo beija-flor.

Se Deus lhe fora tão clemente aqui neste oriente de luz
Formada numa tela deslumbrante e bela,
Teu coração, junto ao meu lanceado
Pregado e crucificado sobre a rosa cruz do arfante peito teu

Tu és a forma ideal, estátua magistral
Oh alma perenal, do meu primeiro amor, sublime amor.

Tu és de Deus a soberana flor
Tu és de Deus a criação de todo o coração
Cintilas um amor
O riso, a fé, a dor em sândalos olentes cheios de sabor
Em vozes tão dolentes quanto um sonho em flor
És láctea estrela, és mãe da realeza
És tudo enfim que tem de belo,
Todo o resplendor da santa natureza
Perdão se ouso confessar-te, eu hei de sempre amar-te
Oh flor! Meu peito não resiste,
Ah, meu Deus o quanto é triste,
A incerteza de um amor que mais me faz penar
Em esperar em conduzir-te um dia aos pés do altar
Jurar, aos pés do onipotente
Em versos comoventes de luz,
E receber a unção da tua gratidão,
Depois de remir, teus desejos
Em nuvens de beijos hei de envolver-te
Até o meu padecer, de todo fenecer”

A você, o nosso amor.

sexta-feira, 6 de março de 2020

À Nós Mulheres...


CANÇÃO NA PLENITUDE 

"Não tenho mais os olhos de menina nem corpo adolescente, e a pele translúcida há muito se manchou.
Há rugas onde havia sedas, sou uma estrutura agrandada pelos anos e o peso dos fardos bons ou ruins.
(Carreguei muitos com gosto e alguns com rebeldia.)
O que te posso dar é mais que tudo o que perdi: 
dou-te os meus ganhos.
A maturidade que consegue rir quando em outros tempos choraria, 
busca te agradar quando antigamente quereria apenas ser amada. 
Posso dar-te muito mais do que beleza e juventude agora: esses dourados anos me ensinaram a amar melhor, com mais paciência e não menos ardor, a entender-te se precisas, a aguardar-te quando vais, a dar-te regaço de amante e colo de amiga, e sobretudo força — que vem do aprendizado. 
Isso posso te dar: um mar antigo e confiável cujas marés — mesmo se fogem — retornam cujas correntes ocultas não levam destroços mas o sonho interminável das sereias."
Lya Luft

O texto extraído do livro "Secreta Mirada", Editora Mandarim - São Paulo, 1997, pág. 151. Lya Luft
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