Meu pai Ruy de Carvalho
Hoje, data em que se comemora o dia dos pais, quero mais uma
vez lhe reafirmar o meu amor e falar da minha saudade. A sua ausência, como bem
definiu o poeta, é um estar em mim, preenchida pelas lembranças reconfortantes
com as quais sorrio, choro, danço e vivo, como você tão bem me ensinou.
Às vezes, quando a saudade aperta e me pego mergulhada em
pensamentos recordando das tantas coisas – principalmente as boas – que vivemos
juntos, volto no tempo e revivo cada detalhe dos nossos momentos, acabo sempre
com os olhos cheios d’água e um sorriso nos lábios pelo privilégio de ser você
o meu pai.
Sorrio cada vez que lembro, quando eu era criança, e ouvia
você bradar Maria Mércia, puxando pelo R, no lugar do Mercinha de costume, eu
“tremia na base”, sabia que havia “pisado na bola”. Aliás, bastava um olhar
seu, com aqueles olhos azuis que nem duas bolas de gude, para que qualquer um
de nós ficássemos parados no lugar.
Sorrio a cada lembrança das nossas viagens ao sítio,
principalmente quando me tornei “sua chofer” e dirigia a sua ELBA, xodó de
todos os seus xodós. Coitada de mim quando colocava sacos de fertilizantes,
estrumo e sal grosso no porta- mala e você ia de cara amarrada até lá,
reclamando que eu estava acabando com “sua bichinha” e a “zuada” sempre
terminava no destino final com um sonoro “eu lhe amo” de um para o outro.
Esse período foi o tempo que Deus nos deu para que nos
tornássemos mais unidos. Nele pude conhecer melhor, além do pai, o menino que
você fora e o homem que se tornara.
Saíamos sempre pela manhã, você a cantar sua música favorita
“Tu és, divina e graciosa, estátua
majestosa do amor, por Deus esculturada e formada com ardor da alma da linda
flor de mais ativo olor, que na vida é preferida pelo beija-flor....” e
feliz por estar indo a sua terra e pedaço de chão favorito, o seu sítio.
Quando não cantávamos, conversávamos.
Você me falava da sua infância, do seu temor pelo seu pai,
da bondade de sua mãe - de quem tenho orgulho de ter herdado o nome – e dos
seus irmãos. Falava da sua juventude, das suas aventuras, dos seus amores e dos
seus dissabores vida a fora. Falava de nós, os seus filhos, cada qual do seu
jeito, com defeitos e virtudes. Falava, também, do seu amor incondicional por
nós.
Voltávamos sempre no final do dia, depois de “bater as sete
freguesias”, como dizia mamãe, com o carro repleto de banana, coco seco,
macaxeira, mamão, batata doce, jaca e o que mais encontrávamos para colher ou
comprar, e você num gesto de bondade dividia com a vizinhança.
Conheci você, papai, como se pode conhecer alguém a quem
amamos e respeitamos, assim como ele é, com virtudes e defeitos, fraquezas e
gestos grandiosos – que só as pessoas grandes de espírito podem ter. Esse é
você, meu pai, um homem sincero, honesto e digno.
Pelos laços que nos une, “sinto”, não me pergunte como, o
quanto você é presente em mim. Lembrando as palavras que você sempre me dizia
quando me abençoava: Deus lhe faça muito feliz! Sou aquela, papai, que seguindo
o exemplo deixado por você, caminha na vida, semeando o bem, caindo,
levantando, tentando ser uma pessoa melhor, sempre em busca de dias melhores,
que com certeza virão. Isso é felicidade.
A você o meu amor, com saudade.
Sua filha,
Mércia
A cada
pai, presente ou ausente, pais que são pais e mães, mães que são mães e pais, o
meu carinho e respeito pelo seu dia.