quinta-feira, 24 de outubro de 2019

SAUDADE...

Meu pai Ruy de Carvalho

Tenho andado saudosista nas últimas semanas.

Sem perceber, fui buscar lembranças da infância e de um dos principais personagens da minha vida. Meu pai, Ruy de Carvalho. 

Hoje, 24 de outubro seria o seu aniversário.

Há alguns anos ele se encantou... Deixou-me encantada pela vida e por ter tido o privilégio de tê-lo como pai e mentor.

Homem simples e bom. Sua maior virtude consistia na grandeza de amar e querer o bem de todos.

Forte que nem um carvalho. 

Rude como um bicho. 

Doce como uma criança e.... dançarino de primeira grandeza.

Ensinou-me a dançar, a brincar, a sorrir e a viver.

A cada aniversário, dizia que viveria 96 anos - ficou me devendo mais de 10 –, Deus o chamou antes.

Hoje, em sua homenagem, como se aqui estivesse, - que Drummond me permita - com o coração, lhe falarei do meu amor, da minha saudade e da sua ausência...

Ausência

Por muito tempo achei que a ausência é falta.
E lastimava, ignorante, a falta.
Hoje não a lastimo.
Não há falta na ausência.
A ausência é um estar em mim.
E sinto-a, branca, tão pegada, aconchegada nos meus braços, que rio e danço e invento exclamações alegres, porque a ausência, essa ausência assimilada, ninguém a rouba mais de mim.

(Carlos Drummond de Andrade)

sexta-feira, 11 de outubro de 2019

PARAÍSOS DA INFANCIA

 Mamãe e sua trupe

Um dos paraísos da minha infância era o quintal da nossa casa.
O nosso quintal parecia um sítio, além do terreno grande que ia de uma rua a outra, papai comprou e demoliu a casa vizinha duplicando-o de tamanho.  Cheio de fruteiras, com dois poços de água, um dique que ele construiu só para lavar o seu carro - que usávamos como passarela nos nossos desfiles de moda ou de miss e palco teatral - e, a casinha suspensa feita de ripas de madeira pintada de branco, construída quando um dia ele inventou de criar galinhas de raça, que se transformou no nosso refúgio lá no fundo do quintal.
Lá era a nossa casinha de brincar. Era lá que fazíamos os nossos cozinhados.
A nossa casa vivia cheia de amigas e os nossos cozinhados eram realizados sempre que havia abate de galinhas. Todos os “miúdos”, pés, asas e pescoços eram nossos, ou pequenos peixes quando, para desespero de mamãe, íamos pescar nos rios da redondeza.
Cada participante contribuía com alguma coisa, frutas, verduras, arroz, feijão, contanto que tivéssemos todos os ingredientes para fazer o almoço e passássemos o dia todo na nossa casinha. Tínhamos, também, todos os apetrechos: panelas e fogareiro de barro, pratos de ágata e copos de alumínio. Portanto, utilizávamos poucas coisas da casa de mamãe.
Independente do prato principal, muitas vezes complementado da cozinha de casa, o nosso feijão com arroz, era sempre um baião de dois, prato sempre presente nos nossos cozinhados e que tinha um sabor inigualável feito por nós.
Geralmente, mamãe ficava de olho na gororoba que a gente ia comer e, de vez em quando, mandava alguém dar uma mãozinha, afinal, éramos uma ruma de crianças brincando com fogo.
Ela, porém, não escondia a satisfação de nos ver, todas juntas, sob as suas asas protetoras, brincando no nosso quintal.
Terminada a maratona do almoço, louça lavada e casinha arrumada, começavam as brincadeiras, geralmente um desfile de moda ou de miss, ou ainda, a encenação de um drama teatral.
Coitada de mamãe! Lá se iam suas roupas para os personagens e seus lençóis como cortinas de teatro.
Pense numa trupe!
Pense numa infância feliz!

sábado, 5 de outubro de 2019

A TAL LIBERDADE


Certa vez, em determinado período da minha vida, Lúcia a minha irmã caçula, me disse:

- Mércia, agora você tem sua liberdade!

E eu lhe questionei:

- E o que eu vou fazer com essa tal liberdade? 

Naquele momento de sofrimento e solidão, como eu iria entender sobre o que seria ser livre, no sentido amplo da palavra, se sempre, de muletas eu andara durante toda vida?

Mal sabia que aos quarenta e tantos anos, finalmente, estava dando os primeiros passos de liberdade para o meu crescimento como gente, como pessoa.

Às vezes, em meus devaneios, me questiono sobre o que fui, como fui e por que fui aquela pessoa que se deixou levar pelas circunstâncias da vida sem fazer questionamentos, apenas me deixando levar.

Liberdade é felicidade. Ser livre é ser feliz. E vice versa.

Existem pessoas que vivem, a qualquer custo, presas a alguém ou alguma coisa, em busca da felicidade e com uma vontade imensa de ser feliz, mas não têm a tal liberdade. Porque ser ou se sentir livre e feliz, independe se você está só ou com alguém, se você tem ou deixa de ter alguma coisa, o importante é se amar para poder amar, respeitar, cuidar, compartilhar, sorrir, chorar, ser cúmplice, amigo e companheiro.

Enquanto livre, ela, a felicidade, estará bem ali, em frente aos seus olhos. Na sua saúde, no seu trabalho, no seu sonho realizado, nos seus filhos, na sua família, na companhia dos seus amigos, no despertar de mais um dia, numa lua brilhando no céu. Ela está, até mesmo, nos contratempos da vida. E é, principalmente, neles e por causa deles que você se descobre uma pessoa cheia de vida, capaz, em paz, livre e.... Feliz.

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