domingo, 29 de julho de 2012

A Arte de Ser Avó - RAQUEL DE QUEIROZ

Meu neto Tomás e eu

"Netos são como heranças: você os ganha sem merecer. Sem ter feito nada para isso, de repente lhe caem do céu. É, como dizem os ingleses, um ato de Deus. Sem se passarem as penas do amor, sem os compromissos do matrimônio, sem as dores da maternidade. E não se trata de um filho apenas suposto, como o filho adotado: o neto é realmente o sangue do seu sangue, filho de filho, mais filho que o filho mesmo...


Quarenta anos, quarenta e cinco... Você sente, obscuramente, nos seus ossos, que o tempo passou mais depressa do que esperava. Não lhe incomoda envelhecer, é claro. A velhice tem as suas alegrias, as suas compensações - todos dizem isso embora você, pessoalmente, ainda não as tenha descoberto - mas acredita.


Todavia, também obscuramente, também sentida nos seus ossos, às vezes lhe dá aquela nostalgia da mocidade. Não de amores nem de paixões: a doçura da meia-idade não lhe exige essas efervescências. A saudade é de alguma coisa que você tinha e lhe fugiu sutilmente junto com a mocidade. Bracinhos de criança no seu pescoço. Choro de criança. O tumulto da presença infantil ao seu redor. Meu Deus, para onde foram as suas crianças? Naqueles adultos cheios de problemas que hoje são os filhos, que têm sogro e sogra, cônjuge, emprego, apartamento a prestações, você não encontra de modo nenhum as suas crianças perdidas. São homens e mulheres - não são mais aqueles que você recorda.




E então, um belo dia, sem que lhe fosse imposta nenhuma das agonias da gestação ou do parto, o doutor lhe põe nos braços um menino. Completamente grátis - nisso é que está a maravilha. Sem dores, sem choro, aquela criancinha da sua raça, da qual você morria de saudades, símbolo ou penhor da mocidade perdida. Pois aquela criancinha, longe de ser um estranho, é um menino seu que lhe é "devolvido". E o espantoso é que todos lhe reconhecem o seu direito de o amar com extravagância; ao contrário, causaria escândalo e decepção se você não o acolhesse imediatamente com todo aquele amor recalcado que há anos se acumulava, desdenhado, no seu coração.


Sim, tenho certeza de que a vida nos dá os netos para nos compensar de todas as mutilações trazidas pela velhice. São amores novos, profundos e felizes que vêm ocupar aquele lugar vazio, nostálgico, deixado pelos arroubos juvenis. Aliás, desconfio muito de que netos são melhores que namorados, pois que as violências da mocidade produzem mais lágrimas do que enlevos. Se o Doutor Fausto fosse avó, trocaria calmamente dez Margaridas por um neto...


No entanto - no entanto! - nem tudo são flores no caminho da avó. Há, acima de tudo, o entrave maior, a grande rival: a mãe. Não importa que ela, em si, seja sua filha. Não deixa por isso de ser a mãe do garoto. Não importa que ela, hipocritamente, ensine o menino a lhe dar beijos e a lhe chamar de "vovozinha", e lhe conte que de noite, às vezes, ele de repente acorda e pergunta por você. São lisonjas, nada mais. No fundo ela é rival mesmo. Rigorosamente, nas suas posições respectivas, a mãe e a avó representam, em relação ao neto, papéis muito semelhantes ao da esposa e da amante dos triângulos conjugais. A mãe tem todas as vantagens da domesticidade e da presença constante. Dorme com ele, dá-lhe de comer, dá-lhe banho, veste-o. Embala-o de noite. Contra si tem a fadiga da rotina, a obrigação de educar e o ônus de castigar.


Já a avó, não tem direitos legais, mas oferece a sedução do romance e do imprevisto. Mora em outra casa. Traz presentes. Faz coisas não programadas. Leva a passear, "não ralha nunca". Deixa lambuzar de pirulitos. Não tem a menor pretensão pedagógica. É a confidente das horas de ressentimento, o último recurso nos momentos de opressão, a secreta aliada nas crises de rebeldia. Uma noite passada em sua casa é uma deliciosa fuga à rotina, tem todos os encantos de uma aventura. Lá não há linha divisória entre o proibido e o permitido, antes uma maravilhosa subversão da disciplina. Dormir sem lavar as mãos, recusar a sopa e comer roquetes, tomar café - café! -, mexer no armário da louça, fazer trem com as cadeiras da sala, destruir revistas, derramar a água do gato, acender e apagar a luz elétrica mil vezes se quiser - e até fingir que está discando o telefone. Riscar a parede com o lápis dizendo que foi sem querer - e ser acreditado! Fazer má-criação aos gritos e, em vez de apanhar, ir para os braços da avó, e de lá escutar os debates sobre os perigos e os erros da educação moderna...




Sabe-se que, no reino dos céus, o cristão defunto desfruta os mais requintados prazeres da alma. Porém, esses prazeres não estarão muito acima da alegria de sair de mãos dadas com o seu neto, numa manhã de sol. E olhe que aqui embaixo você ainda tem o direito de sentir orgulho, que aos bem-aventurados será defeso. Meu Deus, o olhar das outras avós, com os seus filhotes magricelas ou obesos, a morrerem de inveja do seu maravilhoso neto!


E quando você vai embalar o menino e ele, tonto de sono, abre um olho, lhe reconhece, sorri e diz: "Vó!", seu coração estala de felicidade, como pão ao forno.


E o misterioso entendimento que há entre avó e neto, na hora em que a mãe o castiga, e ele olha para você, sabendo que se você não ousa intervir abertamente, pelo menos lhe dá sua incondicional cumplicidade...


Até as coisas negativas se viram em alegrias quando se intrometem entre avó e neto: o bibelô de estimação que se quebrou porque o menininho - involuntariamente! - bateu com a bola nele. Está quebrado e remendado, mas enriquecido com preciosas recordações: os cacos na mãozinha, os olhos arregalados, o beiço pronto para o choro; e depois o sorriso malandro e aliviado porque "ninguém" se zangou, o culpado foi a bola mesma, não foi, Vó? Era um simples boneco que custou caro. Hoje é relíquia: não tem dinheiro que pague..."

(O brasileiro perplexo, 1964.)
Rachel de Queiroz






sexta-feira, 27 de julho de 2012

FILÉ A OSWALDO ARANHA

Imagem Google

Ingredientes
Filé
4 bifes de filé (cerca de 200 g cada)
 4 colheres (sopa) de manteiga sem sal
8 dentes de alho cortados em lâminas
Sal e pimenta-do-reino moída na hora a gosto

Farofa
2 colheres (sopa) de manteiga sem sal
1 cebola pequena picada
1 xícara de farinha de mandioca crua
3 ovos batidos
Salsa e cebolinha picados
Sal e pimenta-do-reino moída na hora a gosto

Batata Portuguesas 
2 batatas grande cortadas em rodelas de ½  cm
1 pimentão cortado em tiras
Endro (em sementes) a gosto
 Sal e pimenta-do-reino a gosto
Óleo o suficiente para fritar

Modo de Fazer
Farofa
Em uma frigideira aqueça a manteiga em fogo alto.
Junte a cebola e deixe até ficar transparente.
Adicione os ovos, espere endurecer um pouco e desfaça-os com uma colher. Coloque a farinha e cozinhe por 3 minutos.
Adicione a salsa e a cebolinha.
Tempere com o sal e a pimenta.

Batata 
Aqueça o óleo em uma frigideira e frite as rodelas de batata até dourarem. Retire e deixe secar em papel toalha.
Coloque o pimentão e frite um pouco.
Retire e misture com a batata.
Tempere e salpique endro à gosto.

Filé
Em uma panela pesada (de preferência de ferro), aqueça metade da manteiga.
Tempere os filés com o sal e a pimenta e grelhe por 4 minutos de cada lado, até chegar “ao ponto”.
Aqueça a outra metade da manteiga em outra panela e coloque o alho por 1 minuto.
Regue os filés com o alho e sirva acompanhado da farofa e das batatas.
Serve 4 pessoas.

quinta-feira, 26 de julho de 2012

MUDE - EDSON MARQUES



MUDE


"Mas comece devagar, 
porque a direção é mais importante 
que a velocidade. 


Sente-se em outra cadeira, 
no outro lado da mesa. 
Mais tarde, mude de mesa. 
Quando sair, 
procure andar pelo outro lado da rua. 
Depois, mude de caminho, 
ande por outras ruas, 
calmamente, 
observando com atenção 
os lugares por onde 
você passa. 
Tome outros ônibus. 
Mude por uns tempos o estilo das roupas. 
Dê os teus sapatos velhos. 
Procure andar descalço alguns dias. 
Tire uma tarde inteira 
para passear livremente na praia, 
ou no parque, 
e ouvir o canto dos passarinhos. 


Veja o mundo de outras perspectivas. 


Abra e feche as gavetas 
e portas com a mão esquerda. 
Durma no outro lado da cama. 
Depois, procure dormir em outras camas. 
Assista a outros programas de tv, 
compre outros jornais, 
leia outros livros, 
Viva outros romances! 


Não faça do hábito um estilo de vida. 


Ame a novidade. 
Durma mais tarde. 
Durma mais cedo. 
Aprenda uma palavra nova por dia 
numa outra língua. 
Corrija a postura. 
Coma um pouco menos, 
escolha comidas diferentes, 
novos temperos, novas cores, 
novas delícias. 
Tente o novo todo dia. 
o novo lado, 
o novo método, 
o novo sabor, 
o novo jeito, 
o novo prazer, 
o novo amor. 
a nova vida. 
Tente. 
Busque novos amigos. 
Tente novos amores. 
Faça novas relações. 
Almoce em outros locais, 
vá a outros restaurantes, 
tome outro tipo de bebida 
compre pão em outra padaria. 
Almoce mais cedo, 
jante mais tarde ou vice-versa. 
Escolha outro mercado, 
outra marca de sabonete, 
outro creme dental. 
Tome banho em novos horários. 
Use canetas de outras cores. 
Vá passear em outros lugares. 
Ame muito, 
cada vez mais, 
de modos diferentes. 
Troque de bolsa, 
de carteira, 
de malas. 
Troque de carro. 
Compre novos óculos, 
escreva outras poesias. 
Jogue os velhos relógios, 
quebre delicadamente 
esses horrorosos despertadores. 
Abra conta em outro banco. 
Vá a outros cinemas, 
outros cabeleireiros, 
outros teatros, 
visite novos museus. 
Mude. 
Lembre-se de que a Vida é uma só. 
Arrume um outro emprego, 
uma nova ocupação, 
um trabalho mais light, 
mais prazeroso, 
mais digno, 
mais humano. 


Se você não encontrar razões para ser livre, 
invente-as. 


Seja criativo. 


E aproveite para fazer uma viagem despretensiosa, 
longa, se possível sem destino. 
Experimente coisas novas. 
Troque novamente. 
Mude, de novo. 
Experimente outra vez. 
Você certamente conhecerá coisas melhores 
e coisas piores, 
mas não é isso o que importa. 
O mais importante é a mudança, 
o movimento, 
o dinamismo, 
a energia. 


Só o que está morto não muda! "


Edson Marques. 





quinta-feira, 5 de julho de 2012

COM TODO MEU AMOR



Por Mércia Carvalho




 Lucinha, dezoito anos...


Como o tempo passa rápido!


Lá se vão dezoito anos. Não são poucos nem são muitos, são somente dezoitos anos...


E eu, como mãe, imagino que em sua cabeça de menina mulher, tenha enfim, chegado o dia da tão sonhada liberdade. A maioridade.


Mas o que significa liberdade?


Liberdade, filha minha, é tão livre que não podemos nos deter a uma definição da palavra. Liberdade é conquistar com o nosso próprio esforço aquilo que desejamos. Liberdade é ser livre para agir e pensar conforme as nossas convicções, nos preparando para vivê-la durante toda a nossa vida.


Encare esse dia como um divisor de águas, onde daqui prá frente, cada passo dado, cada decisão tomada seja a construção do seu futuro e do seu passado.


A despeito de todos os obstáculos da vida é necessário sonhar. Lute pelo que você quer e acredita.


E acredite filhinha, que o sonho sempre é possível, desde que você o planeje e tenha força de vontade de realizá-lo.


Agora, aos dezoito anos, embora “crescida” vejo ainda a minha “menina” que desabrocha para vida em busca dos seus sonhos e realizações.


Viva filhinha. Ame. Encante e seja encantada, levando sempre no rosto esse sorriso lindo de menina mulher. Isto é viver.  Isto é felicidade.                                                                                                                                              
                                                                                                                                                                         
                                                                                                                                                                               
                                                                                                                                                                       

                                                                                                                                                                         
                                                                                                                     

segunda-feira, 2 de julho de 2012

FLAN DE BAUNILHA

Imagem Google

Ingredientes
1 litro de leite
150gr de açúcar
8 ovos inteiros
2 favas de baunilha
200gr de açúcar para o caramelo

Modo de Fazer
Faça o caramelo e coloque nos ramequins, ou numa forma, e espalhe pelas laterais.
Aqueça o leite com as favas de baunilha. Se você não encontrar a baunilha em favas, perfume o leite depois de aquecido com gotas de baunilha a gosto. Não deixe levantar fervura.
Em uma tigela, despeje os ovos e o açúcar e misture com um fouet, não bata, apenas misture.
Acrescente o leite quente, sempre misturando. Coe numa peneira fina.
Deixe o creme descansar um pouco e coe novamente para eliminar totalmente a espuma que possa ter se formado.
Despeje o creme nos ramequins previamente cobertos com o caramelo.
Aqueça o forno a 150º.
Forre um tabuleiro com papel toalha, coloque os ramequins com o creme, adicione água ao tabuleiro e leve ao forno, em banho-maria por 40 minutos.
Desenforme depois de frio.
Rende oito porções.

domingo, 1 de julho de 2012

Minha filha andarilha

Imagem Google

Já andei de Norte a Sul deste país atrás da minha filha andarilha.
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Nascida em Natal, morou em Brasília, Recife, São Paulo, Macapá, São Borja-RS, Parnaíba-PI e, atualmente, Santa Maria-RS, pense numa menina andeja!
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Não pense que ela é caixeiro-viajante, é professora universitária. Minha filha, quando em busca dos seus objetivos, é a pessoa mais determinada que eu conheço e de quem tenho muito orgulho. Pense numa filha!
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Sempre que podemos, estamos juntas, independente do lugar em que ela esteja. Largo tudo: casa, trabalho, marido e filhos. Lá vou eu lhe fazer um “carinhosinho” de mãe e, agora, também de avó. Aliás, pelos meus filhos vou até a Konchichina.
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Por causa dela tenho tido a oportunidade de conhecer esse Brasil.
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Encantei-me com a região amazônica quando tive oportunidade de conhecer o Amapá. Nunca comi tanto peixe na vida olhando para o rio Amazonas que banha a capital. Até hoje, não esqueço o pirarucu a milanesa com castanha e molho de taperebá – o nosso cajá – prato ganhador de um festival gastronômico e incorporado ao cardápio do Restaurante Cantinho do Baiano em Macapá. Pelo nome percebe-se que o nordestino está em todo lugar...
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A minha avó paterna, de quem herdei o nome e o gosto pelas comidas exóticas da sua região, me fez adorar pupunha, pato no tucupi, tucunaré, pirarucu e por aí vai. Ela era amazonense.
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Só espero que um dia a minha andarilha volte ao seu porto seguro, Natal, mas, enquanto isso não acontece eu vou atrás dela.
06/02/2011







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