Hoje, 21 de maio, você estaria
completando 65 anos.
Me pergunto: Por que os bons
vão primeiro? Não tenho resposta. São os desígnios do criador. Acredito eu.
E você se foi. Mas deixou
arraigado em mim as lembranças do nosso amor maduro, que me impulsiona a ir em
frente, tentado me tornar uma pessoa melhor. Sua missão foi cumprida.
Foi preciso aprender a só ser.
Não sofro por isso. Não existe ausência na saudade. E ela, a saudade, será
sempre celebrada com uma lembrança, das tantas boas lembranças do que juntos
vivemos. Isso me fortalece.
O que foi nosso, continua sendo
nosso. Nos pertence. Os nossos projetos sonhados e realizados. A nossa casa da
Barra Pequena. Os nossos amigos. Os nossos amigos-irmãos. Os nossos filhos. Os
nossos filhos do coração. O nosso cão Xexéu, amigo e fiel escudeiro. Até o
nosso Galo Hermilo, continua lá no nosso quintal esperando por mais um
carnaval.
Hoje tenho a lhe agradecer pelo
que vivemos com a certeza de que “O amor não pede, tem. Não reivindica,
consegue. Não percebe, recebe. Não exige, oferece. Não pergunta, adivinha.
Existe para ser feliz”.
Amor
Maduro
Por Leonardo Sodré
Há quem possa dizer que todo
amor, por passar pelos estágios da atração e da paixão, é maduro. Penso que
ele, o amor, vai amadurecendo na medida do tempo. Quando é respeitoso,
cúmplice, cresce e se transforma em algo tão prazeroso que não cabe somente no
casal. Contagia, torna-se bonito de ver porque transmite, sobretudo, paz e
serenidade. O escritor Artur da Távola bem o definiu: “O amor maduro não é
menor em intensidade. Ele é apenas silencioso. Não é menor em extensão. É mais
definido colorido e poetizado. Não carece de demonstrações: presenteia com a
verdade do sentimento. O amor maduro é a valorização do melhor do outro e a
relação com a parte salva de cada pessoa. Ele vive do que não morreu, mesmo
tento ficado para depois, vive do que fermentou criando dimensões novas para
sentimentos antigos, jardins abandonados, cheios de sementes.”
A definição de Artur da Távola
poderia encerrar a crônica pela riqueza da definição sobre o amor maduro.
Entretanto, devo confessar o amor maduro que começa na idade madura, e não o
amor que amadurece naturalmente. Um história real de um amor que nasce entre
duas pessoas que há muito não se via e que se encontram durante um tempo de
solidão e alguns sofrimentos. Amor que se sobressaia de uma antiga amizade e
que brota tão puro, tão sincero que dá a impressão de existir a muitos anos.
Esta é a sensação do meu amor
maduro. Encontrado por acaso numa noite morna de uma quarta-feira estrelada.
Teria sido um acaso ou uma providência? Creio na providência, na cumplicidade
de Deus, que permitiu que duas pessoas solitárias pudessem se encontrar para
uma nova vida. Também, por causa do desdobramento poético e tranquilo desse
encontro que nos uniu de forma tão intensa. Porque amar é buscar a simplicidade
do sentimento, sem inibições, subterfúgios, mentiras. Amar é simplesmente se
deixar levar pelo equilíbrio de dar e receber, sem cobranças.
O amor maduro tem problemas?
Claro que tem. Os problemas
oriundos da felicidade, aqueles que buscam encurtar soluções. Pequenas
ansiedades dos casais que querem sempre estar juntos. Que não se imaginam
sozinhos. Mas, eles são debatidos e se tornam mais fáceis de serem resolvidos e
muitos se tornam sementes de soluções, porque terminam por inspirar novos
momentos intensos de companheirismo, porque o amor maduro é amor companheiro,
solidário.
Um abraço, um beijo dos que
vivem o amor maduro os levam ao Céu. Passeio nas nuvens com a amada, sensações
conhecidas que levam a um prazer tão intenso que palavras não conseguem
descrever. Orgulho da amada, que brota pequenina nos meus braços de saudades.
Mas, para viver um novo amor na
maturidade, depois de passar por outros amores e de ter vivido muitas
frustrações e desencantos, requer coragem. Muita coragem para sair do
“mesmismo” da vida e enfrentar a nova possibilidade de ser feliz, sabendo que
em qualquer relação problemas existem. Que a outra pessoa também tem defeitos e
que eles podem lhe incomodar. Requer vontade de aceitar o bom do outro e deixar
que o coração ame sem medidas. Que apenas ame.
E, despido dos medos e ao lado
do meu amor maduro, vejo o mundo em novas cores. Compreendo a serenidade do
amor e me quedo diante da sua bondade. Bondade corajosa, exprimida nos mínimos
detalhes do que faz para agradar, sem nem pensar nisso. Faz pela inércia do
amor. Sem perceber que os seus gestos e atitudes falam poeticamente: Amo-te.
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